Ambicioso, GOAT: O Filme traz uma série de referências do universo dos filmes de ação, para dentro do contexto paraense, com flashbacks, câmera ágil, jump-cuts na manipulação do tempo na narrativa, planos holandeses que geram desconforto e são típicos, também, de filmes de gênero além de toda uma construção clássica que apresenta inclusive arquétipo de vilão e anti-herói, com referências a filmes de terror e super-heróis isso tudo combinado ao inusitado uso de câmera em primeira pessoa. No geral, existe muito a ser abordado aqui, e é claro que pela quantidade de elementos, nem sempre tudo isso funciona.
Em alguns momentos, o curta-metragem é fragilizado pelas atuações marcadas demais (à exceção do personagem Carlos, cujo ator parece estar em um nível superior aos colegas de elenco) e pela forma com que se torna expositivo sem necessidade. A cena inicial do filme tem como propósito estabelecer uma clara crítica social sobre o local subserviente do proletário frente à estrutura opressora do trabalho e isso já fica muito claro desde o primeiro momento como elemento que irá motivar o protagonista a reagir, construindo a dupla identidade desse arquétipo de anti-herói.
No entanto, mesmo evidente e expositivo, o mesmo discurso é reforçado em um último momento através de um monólogo que pouco acrescenta ao filme para além de justificar a violência como uma reação ao sistema - o ponto mais que evidente de toda a narrativa. O que acaba acontecendo, a partir disso, é uma fragilização do próprio caráter inventivo do desenvolvimento do cinema de gênero dentro do curta, já que, tanto a cena de abertura quanto o desfecho, são as mais genéricas e pouco imaginativas da obra.
Existe sim uma série de fatores interessantes sobre “GOAT: O Filme”, mas parece que o diretor não confia muito nas imagens quando o assunto é a mensagem a ser passada, por isso recorre ao texto, o recurso menos imaginativo dentro do audiovisual, para explicar ao espectador qual o contexto exato desse cenário, dessa violência, dessa reação. Muitas vezes, a imagem pode sim valer por mais de mil palavras e não confiar nisso pode trazer um lado frágil para a própria mensagem que se pretende transmitir.
Ademais, é sempre bom ver filmes nacionais e especialmente, regionais, os quais assumem o seu local dentro de um cinema de gênero, em um momento em que o cinema brasileiro e mundial parecem seguir à risca a ditadura dos dramas genéricos. A ação enquanto gênero cinematográfico tem muito valor, sendo muito rico em termos de uso de linguagem, algo que o curta-metragem parece entender muito bem - quando se propõe.
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