O filme de Edivaldo Moura se situa entre desabafo e denúncia, mas acaba sendo em um último protesto sobre a situação do Camping Ibirapuera na cidade de Castanhal, no Pará. Através de imagens de arquivo e contraposições visuais e sonoras do antes e depois do lugar, o diretor e roteirista traça uma crítica sobre o tratamento do espaço durante os últimos anos, o qual vem sendo sufocado pelo crescimento exponencial da mancha urbana da cidade.
Tenho tendência a me conectar com filmes de denúncia, afinal o cinema (também) é político. A situação em diversos lugares no Maranhão, de onde venho, não é tão diferente do que acontece em Castanhal - assim como imagino que em muitos outros estados do Brasil também não seja. “O Silêncio do Parque” veio para mim em um momento onde grande parte do país sofre pelo que está acontecendo no Rio Grande do Sul. A junção das duas coisas me fez pensar sobre como o poder público negligencia a população até não poder mais, e então usa de seus subterfúgios para mais uma vez se eximir da responsabilidade de cuidar do nosso ecossistema.
Quanto mais as cidades crescem e a exploração da natureza aumenta, maior a probabilidade de enormes desastres ambientais e isso é um pensamento tão óbvio quanto dois mais dois é quatro. O que ainda não entendemos, enquanto sociedade, é que grandes desastres podem nascer primeiro de uma situação como a de um “Camping Ibirapuera” em processo de assoreamento, tomado por um crescimento exacerbado das cidades e da vontade incontrolável de obtenção de lucro a qualquer preço. Inclusive se for nosso bem-estar e lazer, o que seria o caso se a criação de um dos projetos de preservação ambiental do lugar de fato saíssem do papel.
É importante que a contraposição do silêncio do descaso e o barulho da vida sejam feitos durante o documentário, com a intenção de evidenciar a diferença brutal das duas experiências em um mesmíssimo ambiente. Subjetivamente, é o espectador que sente todas as possibilidades que o Camping Ibirapuera poderia ter (e ser), mas que por muitas razões, acabou. Em ruínas, poluição e processos vazios.
Acredito com veemência que quanto mais filmes que denunciam essas práticas existirem, acredito que melhor, ou pelo menos mais documentados, serão os crimes ambientais praticados pelo Estado. Mais evidente se torna o descaso do poder público com a população e suas opções de lazer, o que leva à inevitável crescente da violência urbana, da segregação social e da especulação imobiliária. Enquanto tudo isso existir, é necessário que enxerguemos isso com nossos próprios olhos - e o cinema pode contribuir para isso. É que “O Silêncio do Parque” acaba sendo.
留言