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  • Foto do escritorFabiana Lima

Maligno, o terror que ninguém estava esperando.

Na contramão do polêmico “pós-terror”, James Wan resgata os tradicionais subgêneros do cinema de horror, slasher e giallo, para criar o seu novo filme, Maligno. Divergindo de seus trabalhos anteriores (Invocação do Mal 1 e 2, Jogos Mortais e Sobrenatural), Wan se mostra destemido com Malignant ao fazer um filme divertido, único e cheio de referências, com potencial inegável para se consagrar um clássico.


O fato de celebrar no mínimo 50 anos de cinema de horror nas telas já é um grande mérito de Wan, especialmente quando todos os filmes da atualidade parecem lutar contra os subgêneros mais clássicos do terror a fim de angariar o rótulo de “arte”. Agora, quando se junta essa gama de referências e homenagens ao gênero com uma história original e um terceiro ato divertido e surpreendente, sem deixar de lado as possíveis reflexões sociais, estamos falando de um filme importante, que põe Wan como um dos maiores diretores da atualidade.


Embora eu não seja a maior fã do cinema de horror pelo medo que sempre fala mais alto, minha infância, como tantas outras, foi definitivamente marcada pela influência que grandes clássicos tiveram em criar verdadeiras lendas como Freddy Krueger, Michael Myers, Jason, e muitos outros que vivem até hoje no imaginário coletivo. Em Maligno, Wan cria um novo vilão que caminha entre a ficção científica e o crime, sem que lhe faltem os elementos sobrenaturais necessários ao gênero fantástico.


No filme, Amanda é uma mulher com paralisia do sono que sofre abusos constantes do marido. A violência física e psicológica, enquanto grávida, desperta na protagonista algo sobrenatural. Após três abortos, ela se vê em uma situação de paralisia. Em uma analogia, intencional ou não, o diretor levanta uma discussão social importantíssima que posteriormente será reforçada ainda mais com a situação que é exposta para nós sobre a mãe da própria Emily. A violência contra a mulher é uma fato gerador do terror de Maligno. Quando Gabriel, um nome bíblico usado para se referir ao anjo que anuncia a gravidez de Maria, aparece na trama, é para reforçar que as marcas dessa violência são carregadas conosco, de geração para geração. O Maligno é a forma do mal, o demônio que representa a continuidade desse ciclo violento que irá atingir mais uma mulher.


A protagonista se vê paralisada pelo medo, mas retoma o controle de sua vida ao final. Mais do que um final feliz, Maligno tem um final empoderador sem precisar abrir mão dos seus elementos divertidos para que faça sentido. Sabendo ou não, o diretor provoca uma reflexão que prova, para todos que gostam de denominar o terror atual de "terror social", que é mais do que possível, e a história do cinema já provou isso inúmeras vezes, que o terror trate de questões sociais relevantes sem que para isso tenha que seguir necessariamente os padrões requisitados para um "filme de arte".


Argento, Bava, Carpenter, Craven... São muitas as reverências feitas por Wan nessa grande homenagem para o que o filme não seja considerado a mais pura arte. Longe de ser pretensioso, o diretor mostra uma grande habilidade em homenagear sem abrir mão da sua originalidade. Com seu gigante orçamento, era fácil se perder em algo que chamasse mais atenção que a própria história. Mas não é isso que acontece por aqui, tudo no filme tem um propósito. Até mesmo em cenas que são claramente referências de grandes clássicos, percebe-se que Wan não se esforça muito para que tenha a sua marca. É mais que claro que o diretor se divertiu fazendo o filme, pois é o que sentimos também.


Em que pese diversas reclamações que cercam o roteiro, se Maligno tem um problema este certamente não seria o desenvolvimento de sua história. Minha visão é que estamos tão acostumados com o "terror social" em que pouco se explica, mas muito mora nas entrelinhas, que quando estamos diante de uma história genuína, podemos ter a tendência de achar que é justamente diante de tanta explicação que parece faltar alguma coisa. Nos incomodamos quando não há tantas brechas para explicações mais elaboradas, ou mesmo metafóricas. Acontece que a transparência exagerada e a necessidade de se explicar os mais diferentes momentos de um filme, nem sempre mora no erro de um roteiro, mas algumas vezes pode morar na expectativa quem vê.


Por esse motivo, não se esqueça que aqui, mais do que nunca, a expectativa é inimiga do espectador. Quanto menos você souber da história, melhor. A grande revelação do filme, que acontece no explosivo terceiro ato, é um dos melhores momentos que Maligno pode proporcionar. Provocando um grande misto de risada e medo, é certo que este deve ser o filme mais surpreendente do ano - até agora.


Já assistiu Maligno? Comenta aí o que você achou!


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