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  • Foto do escritorFabiana Lima

Carne Traída (Novíssimo Cinema Paraense)



Existem filmes diferentes no processo de construção de “Carne Traída”. De um lado, existe um filme que parece desejar entregar-se à liberdade da construção de um universo fantástico, através do desenho e da imaginatividade de diferentes filtros da realidade apresentada mirando no cinema experimental e, do outro, a própria realidade apresentada, isto é aquilo que sabemos ser concreto dentro da sequência de eventos da história que acompanhamos: uma mulher em um barco de destino desconhecido cujas interações com outros personagens parecem acontecer na linha tênue entre o “real” e o “imaginado”.


Ao meu ver, a ausência de uma relação de causa-consequência revela uma experimentação sim, mas também uma possível indecisão frente às duas diferentes possibilidades que o filme apresenta em sua forma, o que acaba gerando tensões na maneira de relatar o que eu considero ser uma espécie de viagem para dentro de si e de seus processos, através de uma protagonista que questiona seu espaço no mundo e o futuro da sua própria jornada. Há algo incômodo na forma como esse jogo de imagens, cores, filtros e palavras parece mascarar uma fragilidade de coesão narrativa, fazendo o curta navegar como o barco para lugar nenhum. 


Ao invés de levantar perguntas, a obra gera certo desinteresse pela digressão que pretende causar e sua introspectividade parece, ao fim, apática. O curta-metragem parece recair no problema onde o estilo adotado e a experimentação com a forma se torna algo distinto da (e menor que a) própria “substância”. Em que pese detestar uma abordagem expositiva demais e compreender que filmes experimentais não seguem necessariamente se apegam à relação causa-consequência, me parece que “Carne Traída” se confia na abstração de forma exacerbada até - algo potencialmente tão danoso quanto a exposição se construído de tal maneira. 


Não fica tão claro e nem é de tanta importância assim, no final das contas, se a protagonista carrega algum trauma ou se ela, simplesmente, está prestes a adentrar uma nova fase de sua vida onde o rompimento com o passado também se faz necessário. Se estamos diante de uma crítica sobre o machismo estrutural ou, talvez, uma digressão sobre o início da vida adulta. Não há tempo e nem informação suficiente que consiga criar laços entre esta história e o público. É muito difícil para um curta elucidar muitos pontos em razão do tempo, é claro, assim como também é difícil ter pouco material para desenvolver um texto crítico quando a obra parece não estar muito à vontade em concedê-los. 


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