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Foto do escritorFabiana Lima

A violência contra a mulher como fato gerador do medo em Maligno, uma análise interpretativa

No novo filme de James Wan, a protagonista, Madison está grávida e morando com o namorado. Tudo corre aparentemente bem, até que somos surpreendidos por uma conversa casual que acaba se tornando uma manifestação explícita de violência física contra Maddie. Grávida, Maddie é agredida tendo sua cabeça empurrada contra a parede, despertando Gabriel, o "Maligno" e a levando ao terceiro aborto espontâneo.


Após a agressão e o trauma da perda do filho, Maddie passa a manifestar uma espécie de "paralisia do sono", onde testemunha assassinatos cruéis sem poder agir, paralisada.

A protagonista, portanto, se torna impotente diante dos horrores que observa, incapaz de mover-se diante dos mais terríveis pesadelos. Toda vez que acorda dessa espécie de transe, é lembrada da agressão que sofreu pelo companheiro, com uma macha de sangue relacionada a aparente concussão que sofreu, no travesseiro.



Em uma alusão, intencional ou não, James Wan provoca uma reflexão ainda mais profunda ao dar ao "vilão" o mesmo nome do anjo bíblico que anuncia a gravidez de Maria. Ficamos sabendo, mais a frente, que a Gabriel e Maddie são irmãos e frutos de um ato de violência sexual, que a mãe biológica de Madison sofre aos 15 anos de idade.


Gabriel, para mim, é o "maligno", aqui propositalmente entre aspas, porque é uma entidade que representa a marca do sofrimento profundo da mãe de Emily. Com a filha, assim como outrora com a mãe, o mesmo ciclo triste de violência e abusos não se finda. Gabriel é a reação de Maddie à violência, não por coincidência, vindo à tona como uma reação à algo ocorrido

na sua gravidez.


Ao provocar uma reflexão necessária expondo uma questão social relevante em um filme de terror que homenageia diversos subgêneros tradicionais do cinema de horror, James Wan mostra que os recentes filmes classificados como "terror social" ou "pós-horror", cada vez mais realistas, não são as únicas formas de abordar questões relevantes socialmente dentro do gênero.


O realismo em Maligno mal existe. A ausência da verossimilhança, por tantos cobrada

depois da tendência "A24" de criar o terror ultimamente, não impede em nada Wan de fazer

um filme tão relevante o quanto. Com Maligno sendo uma obra divertida mas não menos assustadora, o diretor se entrega a uma narrativa completamente fantasiosa e bizarra, mas real do início ao fim nos momentos em que aborda a violência contra as mulheres na narrativa, assim como seus impactos.


Não bastando tudo isso, Wan ainda traz um final feliz e empoderador, bastante simbólico pelo fato do pesadelo de Maddie acabar no momento que consegue ter total domínio sobre o próprio corpo. Sua força vem não apenas de si mesma, mas da sua relação com a irmã, Sydney, que não desiste dela e é uma força que exala sororidade desde o ínicio, sendo a pessoa responsável por contar a difícil notícia do comecinho do filme, que desencadeia todo esse processo de terror, manifestado pela paralisia em Maddie.


São muitas visões, mas essa com certeza foi a minha e a razão de ter gostado ainda mais de Maligno mora em todas essas pequenas-grandes analogias.


E você, já tinha parado para pensar sobre o filme assim? Me conta!

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