Pintura, desenho, poesia, cinema e música. O curta-documentário “Ó marambaia: crônicas de (não) país pluriférico” é certamente uma obra abrangente, não se pode negar. Existe uma quantidade enorme de histórias e pessoas por trás de cada evento daquele local desde a década de 80. No entanto, se por um lado se torna tentador passar por cada uma dessas artes e seus realizadores como forma de estudar a história da comunidade e perpetuar seu caráter criativo, por outro parece não existir tempo hábil para desenvolver todos esses assuntos.
Ao adotar o esquema clássico do documentário expositivo entre imagens de arquivo e narração em voice-over, a obra tem dificuldade em elevar seu ritmo e a repetição acaba tornando-a superficial e repetitiva, reservadas as suas possibilidades. São poucas as entrevistas, interações e experimentalismos com a imagem que realmente alteram a monotonia do seu esquema apático. Um desses momentos se trata da sequência inteira de um poema recitado em negativo, o que para mim acabou sendo uma das melhores e mais interessantes sequências de todo o filme.
Acredito que talvez a explosão cultural presente no curta possa ter atrapalhado a presença de um foco mais efusivo, de um direcionamento mais consistente do roteiro. Ao mesmo tempo, penso que sua falta de objetividade pode ser expressão-última da “bagunça” que se tornou o próprio espaço documentado. Resta clara a necessidade performática daquela comunidade, qualquer seja a arte usada como meio para expressar-se.
Ao fim e ao cabo, trata-se de uma história rica, sim, e que certamente mostra um lado diferente da cultura paraense, especialmente quando posto ao lado de um outro documentário da seleção, o “Uma Dança com Saudade”. Naquele temos um cenário do brega, neste temos um cenário do rock. Uma outra cena cultural que indica a pluralidade e a diversidade das pessoas presentes em todos os espaços deste mesmo estado, buscando suas próprias comunidades, criando as suas próprias tribos.
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